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Quem tem medo da apostasia? (III)

Eu particularmente acho que é receio de que várias mentes juntas acabem encontrado algo que eles querem esconder... porém, segundo a liderança da seita, eles estão alertando para a proteção contra a apostasia. Pois até hoje milhões de Testemunhas de Jeová se submetem a isso. Não podem debater suas ideias. Não podem discordar. Não podem pensar por si mesmas. Quem faz o contrário é taxado de independente, de fraco na fé, de prospectivo apóstata. Lembro-me de que certa vez foi realizada uma breve reunião comigo e com dois anciãos, antes mesmo de eu me batizar, pelo simples fato de eu ter falado com alguns irmãos que achava a teoria do Big Bang coerente com o criacionismo. Quase me disciplinam por isso! O mais interessante é que, dois anos depois, foi lançado o livro “Existe um Criador que se Importa com Você?”, no qual o Corpo Governante diz ser possível imaginar o Big Bang como uma forma de Deus ter criado o Universo...

Pois voltando ao nosso foco, fica uma pergunta no ar: será que, se você tem a verdade, está convicto disso, sabe que nada a pode abalar, que não você mesmo enquanto pessoa, mas as convicções que possui, o que, então, pode te desviar do caminho? Há uma frase muito que diz que “a verdade não teme a mentira”. Além disso, em 2 Coríntios 13:8, diz Paulo: “Pois, não podemos fazer nada contra a verdade, mas somente a favor da verdade” (NM), ou, conforme a ARC: “Porque nada podemos contra a verdade, a não ser em favor da verdade”. Então, por que esse medo todo? A fim de dizer que ninguém deve entrar em contato com pensamentos contrários ao da Sociedade, o Corpo Governante usa o texto de 1 Coríntios 10:12: “[...] quem pensa estar de pé, acautele-se para que não caia”. Mais uma vez, usa-se um texto isolado, pois Paulo fala neste capítulo sobre as tentações mundanas, carnais, idolatrias, etc., o contexto não tem nada a ver com o aspecto espiritual ou intelectual, o debate sadio sobre crenças e valores cristãos.

Para redarguir esse texto, eu utilizo duas passagens significativas escritas pelo apóstolo Paulo. A primeira está em 2 Coríntios 10:4, 5 (NM):

“Porque as armas de nosso combate não são carnais, mas poderosas em Deus para demolir as coisas fortemente entrincheiradas. Pois estamos demolindo raciocínios e toda coisa altiva levantada contra o conhecimento de Deus; e trazemos todo pensamento ao cativeiro, para fazê-lo obediente ao Cristo”.

Ora, aqui estamos vendo a verdadeira posição do cristão que tem convicção de sua fé diante da apostasia: realizar um verdadeiro combate espiritual. Demolir os raciocínios contrários ao Cristo. Isso exige conhecimento de causa. Pesquisa. Análise do inimigo. Embate frontal. Experiência espiritual. Nada de medo! Nada de fraqueza, nem covardia!“Porque Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de poder, e de amor, e de bom juízo. Portanto, não te envergonhes do testemunho a respeito de nosso Senhor, nem de mim, prisioneiro pela causa dele, mas participa em sofrer o mal pelas boas novas, segundo o poder de Deus” (2 Timóteo 1:7-8). “Mas, quanto aos covardes [...] terão o seu quinhão no lago que queima com fogo e enxofre. Este significa a segunda morte.” (Apocalipse 21:8). Que poderosa ilustração! Reduzir o pensamento apóstata, isto é, que se desviou do conhecimento de Deus, do amor de Cristo, à condição de cativo. Esmiuçá-lo, destruí-lo, destroçá-lo!

O próximo texto é o de Romanos 8:31-37. Nele, Paulo fala que, não importa o tipo de provação que os cristãos passem, eles podem estar certos de que, no final, seremos “mais que vencedores” (ARC) ou “[...] em todas estas coisas estamos sendo completamente vitoriosos, por intermédio daquele que nos amou”. Veja só, que certeza espiritual fortíssima! Então, para que o medo? Para que o desespero?

O Corpo Governante diz que as TJ’s devem confiar em absoluto apenas em seu “alimento no tempo apropriado”, que muitas vezes, ao longo da história, teve o cardápio substancialmente modificado. Dizem que, se houver dúvidas, devem pesquisar apenas as publicações da Sociedade. Pois bem. Na categoria de educador, desafio qualquer pessoa a dizer que conseguiu aprender algo sobre um assunto desafiador e vital apenas por ouvir falar, pela boca de terceiros, sem ir diretamente à fonte, caso esteja disponível. É como dizer que sabe tudo sobre Paulo Freire lendo apenas os livros de Moacir Gadotti, sem nunca ter saboreado a “Pedagogia da Autonomia”, ou que conhece o pensamento filosófico de Nietzsche apenas através das aulas de Oswaldo Giacóia Júnior, sem, contudo, ter tido acesso ao “Assim falou Zaratustra” ou ao delicioso “Humano, Demasiado Humano”... Isso seria, no mínimo, desonestidade intelectual. Além do mais, a própria Palavra de Deus diz:

“Quando alguém replica a um assunto antes de ouvi-lo, é tolice da sua parte e uma humilhação” (Provérbios 18:13, NM).

“Pleiteia a tua própria causa com o teu próximo e não reveles a palestra confidencial de outrem; para que não te envergonhe aquele que escuta e não se possa revogar o relato mau da tua parte” (Provérbios 25:9-10, NM).

Portanto, se você está lendo agora este texto e ainda é Testemunha de Jeová, saiba que já está em contato com o que a Sociedade considera “apostasia”, mas que, na realidade, não é nada mais, nada menos, que uma forma diferente de ver os pontos de vista da religião da Torre de Vigia. Lembre-se de que está provado, sem sombra de dúvidas, de que as Testemunhas não possuem dogmas, no sentido de serem “verdades absolutas, definitivas, imutáveis, infalíveis, inquestionáveis e absolutamente seguras sobre a qual não pode pairar nenhuma dúvida”. A “verdade” da Organização da Torre de Vigia muda a todo o tempo. O que hoje é aceito, amanhã pode ser totalmente modificado. Assim, você pode, sim, questionar, debater, perguntar, duvidar e, principalmente, orar a Deus pedindo ajuda para resolver suas questões mais íntimas quanto ao que crê como sendo certo.

Não tenha medo de consultar outras fontes, sejam elas no Índice das Publicações da Torre de Vigia, no CD-Rom da WatchTower Library, ou mesmo no Google. Seja honesto com você mesmo. Aprenda por si mesmo. Deixe Deus te direcionar, e não uma classe de homens velhos que nem sabem direito o que é o dia-a-dia de lutas que você enfrenta para servir ao Deus Verdadeiro, pois passam o tempo todo viajando pelo mundo ou em seus gabinetes refrigerados resolvendo assuntos que não têm a mínima ideia do que significa e modificando a existência de pessoas que eles nunca viram na vida. Acima de tudo, siga o conselho de 1 João 4:1 (NM): “Amados, não acrediteis em toda expressão inspirada, mas provai as expressões inspiradas para ver se se originam de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora”.

E se você ainda tem medo da “apostasia”, tome para si a seguinte determinação:

“Tenho posto a minha confiança em Deus. Não temerei. Que me pode fazer o homem terreno?” (Salmos 56:11, NM).


Graça e Paz,


por Cleber Tourinho

ex-testemunha-de-jeová, professor, linguista, revisor de textos, orientador em Medotodologia da Pesquisa Cientifica e está mestrando em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia



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